dezembro, 2021

10dez18:30Seminários Transdisciplinares e InteruniversitáriosCiclo Transformar18:30 IE-ULisboa, IE-ULisboaCategorias:arquivo,arquivo - STd

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Ciclo Transformar

Estes quatro seminários do Doutoramento em Educação são oferecidos pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, em colaboração com sete universidades do Brasil, de Cabo Verde e de Moçambique: Universidade de Brasília, Universidade de Cabo Verde, Universidade Eduardo Mondlane, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Santa Maria e Universidade de São Paulo.

É nossa intenção iniciar a constituição de uma comunidade de estudos de pós-graduação em Educação, juntando as principais universidades dos países de língua portuguesa.

 

António Nóvoa
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

 

30 de novembro - Transformar a escola

Transformar a escola: Cem anos depois do 1.º Congresso Internacional da Educação Nova 

Em 1921, educadores de todo o mundo reuniram-se em Calais (França), no 1.º Congresso Internacional da Educação Nova. Tinham uma ambição imensa: construir “uma educação nova para uma nova era”. Estávamos a sair da Grande Guerra (1914-1918) e o mundo queria repensar-se através da educação.

Cem anos depois, em 2021, estamos a começar a sair, talvez, de uma pandemia devastadora que não só agravou, e muito, as desigualdades e as fracturas no mundo, mas tornou visível a necessidade de repensar a educação, a escola e o ensino. A pandemia não trouxe nenhuma novidade no campo da educação, mas acelerou a necessidade de mudanças e transformações.

Desde o princípio do século XXI, pelo menos, “visões futuristas” têm tido grande sucesso, juntando lógicas de “privatização” e de “tecnologização” da educação. É importante fazer a crítica destas tendências e construir um pensamento de futuro sobre a educação que valorize as dimensões públicas, comuns e humanas.

É neste sentido que a Comissão Internacional sobre Os futuros da educação, nomeada pela UNESCO, acaba de lançar um relatório intitulado Reimagining our futures together: A new social contract for education (este relatório pode ser consultado no site da UNESCO, www.unesco.org). É a partir dele que se elaborará uma reflexão ampla, histórica, projectada sobre o futuro, assente na necessidade de construir um novo contrato social na área da educação.

Os dois primeiros textos da Antologia procuram ajudar a construir esta reflexão.

O texto 1, A metamorfose da escola, transcreve uma intervenção na qual se apontam, brevemente, alguns elementos centrais da mudança do “modelo escolar”, tal como ele se constituiu no século XIX e se expandiu em todo o mundo ao longo do século XX.

O texto 2, escrito em co-autoria com Yara Alvim, procura reflectir sobre as consequências da pandemia. O título ilustra bem o argumento que nele se desenvolve: Não há nada novo, mas tudo mudou: Um ponto de vista sobre a escola futura.

3 de dezembro - Transformar a formação

Transformar a formação: Que futuro para os professores?

As transformações da educação, do ensino e da escola atingem os professores e obrigam a uma redefinição da profissão docente. Para muitos, o futuro dos professores é duvidoso, já que poderão ser substituídos por outras pessoas e profissionais (pais, famílias, tutores, supervisores, facilitadores de aprendizagem…) com a ajuda de tecnologias cada vez mais sofisticadas, nomeadamente com o recurso à inteligência artificial.

Seria um futuro sem futuro, pois a educação implica a existência de um trabalho em comum num espaço público, implica uma relação humana marcada pelo imprevisto, pelas vivências e pelas emoções, implica um encontro entre professores e alunos mediado pelo conhecimento e pela cultura. Perder esta presença seria diminuir o alcance e as possibilidades da educação. Por isso, é tão importante reforçar os professores, a sua profissionalidade, autonomia, capacidade de inovação e de produção de conhecimento pedagógico.

O texto 4 da Antologia, escrita em co-autoria com Yara Alvim, Os professores depois da pandemia, avança uma reflexão neste sentido, mostrando como são perigosos os discursos e as políticas que procuram diminuir a dimensão profissional dos professores.

Daqui, parte-se para uma análise das mudanças necessárias na formação de professores, sublinhando a importância da colaboração entre professores e de um ethos colectivo no exercício da profissão. Não se trata, claro está, de uma “colaboração forçada”, mas antes da criação de condições, nas escolas e na profissão, para um trabalho que junte vários professores em torno de uma responsabilidade partilhada pela educação.

Neste sentido, a formação de professores precisa também de ser repensada, valorizando-se a criação de “terceiros lugares” (ver o texto 3, Tres tesis para una tercera visión – Repensando la formación docente), na linha do que vem sendo construído no Complexo de Formação de Professores do Rio de Janeiro, com base na UFRJ. Juntar as escolas e os professores, as universidades e as autoridades públicas na área da educação em torno de um mesmo lugar institucional é um caminho importante para valorizar os professores e a educação pública.

7 de dezembro - Transformar a universidade

Transformar a universidade: Ainda vamos a tempo?

Ao longo da crise pandémica de 2020-2021, as universidades têm-se mostrado desorientadas, confusas, incapazes de marcarem um caminho. É certo que os sinais de desorientação não são recentes. Há vários anos que as universidades andam enredadas em teias e contradições que as enfraquecem. Basta recordar os problemas crónicos de subfinanciamento e as tentativas de os superar através da importação acrítica de modelos de gestão empresarial; ou a imensa burocracia que ataca a vida académica, atingindo o coração da nossa autonomia e liberdade; ou a adopção de rankings e medidas que provocam a uniformização universitária e um produtivismo académico absurdo e fatal.

Num futuro próximo, as universidades podem tornar-se dispensáveis, substituídas por “cursos online”, por plataformas de inteligência artificial e por “centros empresariais” de desenvolvimento científico e tecnológico; ou podem renovar-se como instituições centrais para as sociedades contemporâneas. Será que ainda vamos a tempo?

Correndo o risco de uma excessiva simplificação, defendo que a chave para a reconstrução das universidades se encontra na palavra diferença, num triplo sentido: (i) diferença entre a universidade e as outras instituições; (ii) diferença entre universidades; (iii) diferença no interior de cada universidade. É disso que fala o texto 5 da Antologia, O futuro da universidade: o maior risco é não arriscar.

E nunca nos devemos esquecer que uma universidade se define, acima de tudo, pelo compromisso dos professores com o futuro dos seus estudantes. É esta a sua missão primeira. Para a cumprir, é preciso criar as melhores condições para uma Pedagogia do encontro, título do texto 6.

Na universidade, há uma tradição importante de valorização do encontro entre mestres e discípulos, como se percebe no extraordinário levantamento e crítica de textos feito pelo Jorge Ramos do Ó, em Fazer a mão – Por uma escrita inventiva na universidade. Porém, com raras excepções, estes mestres, notáveis no seu magistério, nunca inscreveram a questão pedagógica como tema de reflexão da sua própria vida universitária. Não basta ter intuição ou engenho. A capacidade de reflexão sobre o ensino e a pedagogia é fundamental na construção do futuro presente das universidades.

10 de dezembro - Transformar a investigação

Transformar a investigação: O que tenho para vos dizer? 

Em 2014, escrevi uma Carta a um jovem investigador em Educação, texto 7, que li no Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Quatro anos mais tarde, em 2018, no Congresso da Comparative Education Society in Europe, proferi uma conferência que publiquei com o título The return of the comparativist: Estrangement, intercession, and profanation (texto 8 da Antologia).

Estes dois textos, muito diferentes, um de estilo epistolar, outro mais académico, têm um ponto em comum: realçar a importância do investigador ou, melhor dizendo, da pessoa-investigador. Nas últimas décadas, houve uma preocupação crescente, e bem, com os enquadramentos teóricos e conceptuais das pesquisas e com a sofisticação dos métodos e dos instrumentos de análise dos dados. Esta preocupação contribuiu, e muito, para o progresso da investigação em Educação e para a sua credibilidade científica.

Mas todos reconheceremos que, por vezes, as teses se transformaram em volumes imensos de teorias, que já explicam tudo antes mesmo de se estudarem os problemas, ou, ao contrário, numa longa enumeração ou apresentação de dados como se eles falassem por si, constituindo, como agora se diz, “evidências”. A estas duas tendências, junta-se agora o pensamento por big data, por algoritmos ou sequências binárias. Durante algum tempo, a humanidade alimentou a ilusão de criar robots que agissem e pensassem como humanos. Mas é o contrário que nos está a acontecer: são os humanos que, agora, pensam como se fossem robots.

O que parece faltar é o terceiro vértice do triângulo, juntando os conceitos/teorias e os métodos/dados com a pessoa do investigador, com a afirmação do seu papel próprio, específico, único, como conhecedor e como escritor do conhecimento. É sobre o lugar insubstituível da pessoa-investigador que tenho alguma coisa para vos dizer nesta quarta, e última, sessão dos Seminários de Doutoramento que têm em comum o verbo TRANSFORMAR.

 

Links para as sessões

 

 

Hora

(Sexta-feira) 18:30

Localização

IE-ULisboa